A Inquisição esteve profundamente enraizada na sociedade ao largo da sua história. Esta realidade institucional pode ser entendida e deve ser estudada no contexto particular de cada uma das realidades europeias, medievais e modernas − incluídas as suas extensões coloniais −, mas ao mesmo tempo através de uma ótica conjunta baseada nas ideias de controlo social e político que se estendem para além dos seus confins territoriais.
A partir de uma aproximação à história institucional e social, por um lado, e da espiritualidade, por outro, este workshop pretende relacionar uma sociedade interior à instituição (através da qual estes tribunais concretizaram a sua territorialização e que se desenvolveram juridicamente a partir das figuras dos comissários-inquisidores na Idade Média) e uma exterior, uma sociedade percecionada como sendo de eversivos, de um universo espiritual heterodoxo (como os alumbrados e os cristãos-novos).
No interior do ambiente institucional do tribunal, estas duas sociedades conviveram entre realidade e perceção, num diálogo entre aspirações sociais e diferentes espiritualidades, entre modelos desviantes e vivência quotidiana, o qual contribuiu amplamente para forjar os valores e paradigmas de uma sociedade complexa, que se manteve até às últimas tentativas de criar “anacronicamente” um tribunal inquisitorial numa realidade particular como a do Caribe espanhol dos princípios do século XIX.
Dando continuidade a um conjunto de encontros que procura estudar o fenómeno inquisitorial na sua larga duração e numa perspetiva comparada, o Grupo de Trabalho “Expansão Religiosa: Civilizações e Culturas” do CEHR, na sua dinâmica de investigação sobre História das Inquisições, propõe-se relacionar e debater estas realidades e perceções distintas, desde aspetos jurídicos da Inquisição medieval até análises institucionais e sociais das inquisições portuguesa e espanhola.

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