Centro de Estudos de História Religiosa
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Encontros Científicos

Jornadas de Estudo «Correntes religiosas diante da descolonização»

Data: 23 e 24 de fevereiro 2023
Local: Universidade Católica Portuguesa, Lisboa | Sala de Exposições (2º piso do Edifício da Biblioteca João Paulo II) e Videoconferência

Jornadas de Estudo «Correntes religiosas diante da descolonização»

Apresentação
Estas Jornadas de Estudo sobre Correntes religiosas diante da descolonização realizam-se na contextualização do cinquentenário do “caso da Capela do Rato” enquanto acontecimento marcante pela reação à guerra colonial. A situação de guerra e a progressiva contestação foram fatores marcantes e conducentes ao 25 de Abril e instauradores de um tempo de rutura na sociedade portuguesa.
Iniciada em 30 de dezembro de 1972, a vigília da Capela do Rato teve como pano de fundo a guerra que a ditadura portuguesa mantinha desde 1961 nas suas colónias em África contra diferentes fações independentistas. Os efeitos dos movimentos descolonizadores nos impérios europeus e da segunda vaga democratizadora começaram a afetar o regime de Salazar nas suas possessões asiáticas ainda na década de 1950. Em Angola, primeiro, e pouco depois na Guiné e em Moçambique, as posições do Estado Novo associaram, nos anos 1960, as evoluções da guerra colonial e a situação interna do próprio regime político.
Este acontecimento, em si e nas suas implicações, acentuou o distanciamento entre setores do catolicismo e o regime político português, nomeadamente em torno da questão colonial. Este afastamento foi progressivo e multifacetado, convergindo nele distintas motivações, sendo que as Igrejas cristãs, nomeadamente a católica romana, lidava desde os anos 1950 com os processos de descolonização que já decorriam, com particular incidência nas sociedades africanas.
O objetivo desta iniciativa científica consiste em promover o debate historiográfico sobre os posicionamentos de organizações e membros de grupos religiosos em face da descolonização na sequência do final da II Guerra Mundial. A colonização e a descolonização não são processos só aparentemente de um determinado passado, mais ou menos remoto. Um cinquentenário, sendo já muito tempo, não pode deixar de remeter para considerar as raízes e as implicações que a problemática sobre colonialismo versus descolonização coloca à reflexão historiográfica.
Os fatores que marcaram as descolonizações impuseram significativas implicações no papel das Igrejas nas sociedades pós-coloniais e no modo, como as igrejas pós-coloniais – fruto da complexa missionação contemporânea – se tornariam por ricochete em agentes de missionação nas sociedades ocidentais. Essas consequências favoreceram o surgimento de novas comunidades para os debates teológicos nas antigas sociedades de origem dos missionários e, de modo mais alargado, o desenvolvimento de formas de cristianismos. No caso específico do catolicismo emerge uma perceção mais ampla que procura, ainda que com diversas formas de resistência e mesmo contestação, incorporar a diversidade religiosa dessas igrejas e comunidades mais recentes.
Certamente que, nesta oportunidade, se procura uma reflexão aprofundada, com sustentação historiográfica, sobre o posicionamento e papel da Igreja Católica, das outras igrejas cristãs e de outras correntes religiosas perante o colonialismo português e a guerra colonial, sem se escamotear as implicações hermenêuticas dos testemunhos e da documentação quando se utiliza expressões, próprias da época, como «guerra colonial», «guerra do ultramar», «guerra de independência». O estudo da descolonização implica considerar a diversidade de posições, os diferentes atores, as razões dos antagonismos que sustentaram os distintos afrontamentos.
Estes processos considerados na sua dimensão política foram também religiosos, pelo papel desempenhado pelas Igrejas e pelos crentes. Foram momentos de redefinição e de relativização da «ação missionária» em geral e, nomeadamente, portuguesa. Estes percursos foram também delimitados pela política missionária da Santa Sé, pelo menos desde o final dos anos 1950 (encíclica Fidei donum 1957), a valorização dada ao protagonismo crescente do pessoal eclesial autóctone, amparados pelo impacto do Vaticano II (decreto Ad gentes) e, nomeadamente, pela visita de Paulo VI ao Uganda (1969).
Muitos destes acontecimentos implicaram e proporcionaram a perceção de novas fronteiras do religioso, entre o cristianismo e o Islão, como também de concorrência de distintas confissões cristãs. Esta complexidade foi acompanhada pela formação nas missões de muitos dos líderes independentistas, pela participação ativa de líderes religiosos nos movimentos de libertação, pelo posicionamento das diferentes organizações religiosas em defesa de distintas legitimidades no afrontamento colonialismo versus descolonização, sem esquecer a instrumentalização política das igrejas nas descolonizações.
Na análise crítica desse tempo, dessas situações e acontecimentos, comporta considerar a multiplicidade de ângulos de estudo. No caso específico português, os processos de colonização e descolonização, foram também problematizados e debatidos através de confrontos sobre a «essência da portugalidade», cujo questionamento e reformulação de imaginários da «tradição nacional» provocaram o surgimento de novos paradigmas de um existir coletivo enquanto comunidade sociopolítica.
 
Organização
Projeto de investigação “25 de Abril: permanências, ruturas e recomposições” (UCP-CEHR).
Equipa de coordenação: António Matos Ferreira, Rita Mendonça Leite; Nuno Estêvão Ferreira; Hugo Gonçalves Dores; Luís Leal; Pedro Feliciano; João Francisco Pereira 
 
PROGRAMA

23 de fevereiro
  • 09h30-10h00 – ABERTURA
    Rita Mendonça Leite (projeto 25 de Abril: permanências, ruturas e recomposições)
    Paulo F. de Oliveira Fontes (Diretor do Centro de Estudos de História Religiosa)
    Maria Inácia Rezola (Comissária da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril)
    Peter Hanenberg (Vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa)

  • 10h00-11h00 – 1ª CONFERÊNCIA
    Colonização e descolonização nos anos 50 e 60 do século XX: uma história comparada do caso português
    Bruno Cardoso Reis (CEI-ISCTE)

  • 11h00-13h00
    1º PAINEL | OPOSIÇÕES E REALIDADES INTERNACIONAIS

    A Organização das Nações Unidas e a descolonização portuguesa

    Aurora Almada e Santos (IHC-NOVA FCSH)

    Dinâmicas internacionais e transnacionais no colonialismo tardio e na descolonização portuguesa
    José Pedro Monteiro (CECS-UM)

    A internacionalização do colonialismo português, as oposições e a relevância do anticolonialismo em Itália
    Edgar Silva (UCP-CEHR)

    Moderação: Pedro Silva Rei (IHC-NOVA FCSH; UCP-CEHR)

  • 15h00-17h00
    2º PAINEL | MULHERES NA GUERRA E NA RESISTÊNCIA


    A simbologia feminina na ação do resistir
    Marianela Valverde (HTC-NOVA FCSH)

    “Este nó que trago no peito”
    Joana Pontes (CEI-ISCTE)

    Timor-Leste: as mulheres religiosas na resistência
    Maria José Garrido (Jornalista)

    Moderação: Marília dos Santos Lopes (UCP-CECC)

  • 17h00-18h00 – 2ª CONFERÊNCIA
    A descolonização percebida a partir do feminino nos anos 50 e 60 do século XX: a realidade portuguesa e as congregações femininas enquanto instância de análise
    António Matos Ferreira (UCP-CEHR) e Maria Isabel Santos (UCP-CEHR)

24 de fevereiro

  • 10h00-11h00 – 3ª CONFERÊNCIA
    As Igrejas da Europa de Leste face à descolonização
    Madalena Meyer Resende (IPRI-NOVA)
  • 11h00-13h00
    3º PAINEL | CORRENTES CRISTÃS E DESCOLONIZAÇÃO


    Movimentos estudantis protestantes num período de grandes transformações sociais e eclesiais (1961-1974)
    Timóteo Cavaco (UCP-CEHR; SPHP)

    A dinâmica das Sociedades Bíblicas em face do processo de descolonização
    Rita Mendonça Leite (UCP-CEHR; CH-UL)

    Clero do Porto e capelania militar: da crítica à deserção
    José Maria Pacheco Gonçalves (Diocese do Porto)

    Impacto do anticolonialismo no meio eclesial: o ‘GRAI – Grupo Reflexão/Acção/Intervenção” (diocese do Porto)
    Luís Leal (UCP-CEHR)

    Reflexos da alfabetização e da colonização na teologia da libertação
    André Cabrita (FT-UCP)

    Moderação: Rita Almeida de Carvalho (ICS-UL)

  • 15h00-17h00
    4º PAINEL | CORRENTES E INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS

    As expectativas e os limites de um aggiornamento: a Congregação do Espírito Santo entre colonialismo e descolonização em Angola
    Hugo Gonçalves Dores (CHSC-UC)

    A Igreja Católica e a descolonização em Moçambique: paradigmas missionários e processos políticos
    João Miguel Almeida (IHC-NOVA FCSH; UCP-CEHR)

    As comunidades muçulmanas entre o final do Estado Novo e o pós-25 de Abril de 1974: a Guiné-Bissau e Moçambique
    Carimo Mohomed (UCP-CEHR)

    A problemática da nomeação de bispos autóctones em contexto do colonialismo português
    João Francisco Pereira (HTC-NOVA FCSH; UCP-CEHR)

    A formação de uma opinião pública católica em Portugal e os pontificados da década de 1960: lideranças locais, independência política e cooperação internacional
    Nuno Estêvão Ferreira (UCP-CEHR)

    Moderação: Fátima Moura Ferreira (ICS-UM)

  • 17h00-18h00 – 4ª CONFERÊNCIA (Conclusões e debate final)
    Descolonizações e consciências cívicas e religiosas no tempo contemporâneo
    António Matos Ferreira (UCP-CEHR)

 
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